Também conheci Wilson "despezado", isto é, enquanto "Batista". "Wilson Batista".
Nos últimos anos, no entanto, em minha pesquisa, me deparei com pelo menos uma dezena de documentos assinados por ele, invariavelmente, como "Wilson Baptista".
O mais antigo deles data da década de 30. Wilson dedica uma foto sua à Revista Deca, grafando seu sobrenome com o tal "p" mudo que partituras, rótulos de discos e jornais da época também exibiam. Alguém pode pensar: "Mas isso foi antes da Reforma Ortográfica que aboliu as consoantes mudas." (Tá bom, ninguém vai pensar isso. Se tiver alguém lendo essa postagem até aqui, já vai ser ótimo.)
Envergando um paletó e envergado de gomalina, Wilson Baptista (com "p" mudo)
admira um disco com música sua, em foto dos anos 30 dedicada à revista Deca.
É verdade, o Formulário Ortográfico de 1943, estabelecido pela Academia Brasileira de Letras, aboliu de nossa ortografia, de uma hora para outra, as consoantes mudas (que ficaram vagando por aí sem emprego e acabaram caindo no crime). Conclusão: o "p" de "Baptista" desapareceu de partituras, rótulos e jornais, e nosso amigo passou a ser, oficialmente, o "Wilson Batista" (despezado) que chegou até nós.
O mestre do samba parece, no entanto, nunca ter aceitado a punga de seu "p" mudo pelo Formulário Ortográfico. Décadas depois, assinando documentos ou dedicatórias, "à paisana" ou como "artista", fazia questão de seu "p". Um dos documentos mais recentes que encontrei assinado por "Wilson Baptista", é um bilhete, escrito dois meses antes de sua morte para o amigo Almirante - vinte e cinco anos depois da tal reforma ortográfica.
Assinatura de Wilson em bilhete para Almirante
Capa do caderno em que Wilson começou a escrever suas memórias,
na década de 60. Dá-lhe "p" mudo!
Em tempos de k.d. lang, Ke$ha, Will.I.am e outras bizarrices ortográficas e/ou artísticas (sem falar naquele cantor americano que virou um caractere inexistente nos teclados), não é por causa de um mísero "p" mudo que a gente vai deixar de fazer a vontade de Wilson. BAPTISTA.
Depois de vê-lo ressaltar tantas vezes o "p" mudo no espetáculo "O Samba Carioca de Wilson Baptista" acabei ficando na dúvida, mas não tive coragem de levantar tal polêmica. haha
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