PC, Cristina Buarque e eu. Talvez a única foto que eu tenha com ele.
Acho que o show era do João Nogueira ou da Velha Guarda da Portela.
Atrás da Cristina, Áurea Martins. No canto esquerdo, saindo de quadro, João Máximo.
PC ficou com pena da moça das fotos e comprou duas, uma pra mim, outra pra Cris.
Conheci PC no estúdio Cia dos Técnicos, em 1997, durante as gravações do disco "Chico Buarque de Mangueira". PC era responsável pela pesquisa e pelos textos do projeto, e eu andava por ali fazendo um registro em vídeo dos bastidores, a pedido do Hermínio Bello de Carvalho, que assinava a direção artística. Não sabia quem era o PC. Lembro que nos apresentamos um ao outro durante a gravina de "Piano na Mangueira". O glorioso Jamelão era o cantor da faixa e começou a implicar com a letra do samba. "Esse menino tem talento," - disse Jamelão, se referindo a Chico Buarque - "mas esse pedaço aqui não tá certo." E repetia a frase "já mândei subir o piano...", querendo dizer que a prosódia estava errada.
PC, descobri na época, era dono de um super acervo musical, de uma língua ferina e de um coração imenso. Pesquisador mais talentoso, apaixonado e obsessivo tá pra nascer. Sabia tudo (com ênfase em samba e tango). Sua (estranha) mania era querer viver fora dos holofotes. Fazia tudo na surdina e para os amigos, de preferência sem ganhar nada em troca. Quem trabalha com música e memória no Rio de Janeiro e nunca recorreu ao PC não sabe o que perdeu. Com ele aprendi muitíssimo, principalmente a importância do rigor no trato com a informação que se publica.
PC estava sempre atrás de uma gravação raríssima impossível ou produzindo (para os amigos) CDs caseiros com discografias completas de cantores e compositores. A coleção com toda Aracy de Almeida foi uma das primeiras produções dele. Impecável. A pedido de PC, tive a alegria de criar capas para os seus CDs com a obra completa de Mário Reis, Vassourinha e Luís Barbosa.
Todo mundo que conviveu com PC tem uma história engraçada pra contar sobre ele. A minha aconteceu logo depois do "Chico Buarque de Mangueira". Um belo dia, PC, Cristina Buarque, minha irmã Renata, Claudinha Delgado - grande amiga - e eu cismamos de entrevistar Zé Ramos de Mangueira, um dos fundadores da Escola e compositor do levanta-defundo "Jequitibá do Samba".
Seu Zé concordou em nos receber - acho que foi o Hermínio que fez a ponte - e fomos ao seu encontro numa manhã de 1997. Ficamos ali ao redor dele, na sala de sua casa no Cachambi, ouvindo (e gravando) suas histórias e seus sambas (na maioria inéditos). Num dos cantos da sala, D. Nicéia, sua esposa, praticamente vegetava, coitada, sentadinha num sofá. Tinha tido um derrame ou coisa parecida, vivia completamente alheia. Seu Zé se referia a ela com muito carinho, mas como se já não estivesse mais entre nós. Num dado momento, depois de interromper a entrevista mil vezes para fazer comentários sem fim, PC, irrequieto como sempre, cismou de ir ao banheiro. Levantou do sofá e, sem perceber, derrubou no chão uma almofada. Foi aí, sem mais nem menos, que um brado gutural e sinistro trovejou pela sala: "APANHA A ALMOFAAAAADA!" O susto foi geral. Pulamos das cadeiras. D. Nicéia devia amar aquela almofada, porque emergira de seu torpor apenas para gritar pela dita-cuja, num volume que ninguém a imaginava capaz. PC rapidamente colocou a almofada no lugar e sumiu pro banheiro. Nós caímos na risada e "Apanha a almofada!" virou um bordão que dura até hoje - mais de dez anos depois.
OBS: Vocês podem estar se perguntando: O quê que o PC tem a ver com Wilson Baptista? Bom, PC foi o primeiro pesquisador a levantar uma musicografia de Wilson, publicada como apêndice do livro de Bruno Ferreira Gomes na década de 80. Nessa época, gravou uma série de fitas-cassete só com músicas do mestre. Dizem que essas fitas circularam pelo Rio entre os amigos de PC, depois entre os amigos dos amigos, semeando amores pela obra de Wilson. Uma das pessoas "contaminadas" pelas fitas de PC teria sido Cristina Buarque. Não é preciso dizer mais nada...
Rodrigo,
ResponderExcluirSómente, hoje, 02 de Fevereiro de 2012, ao me encontrar, por acaso, com uma tia materna de nosso saudoso Paulo Cesar de Andrade, tomei conhecimento de seu falecimento, ocorrido, em 27 de Setembro de 2011, após, dois meses de coma induzida.
Entristecido, e na tentativa de saber, um pouco mais, cheguei, até, ao seu excelente Blog; onde, me deparei, com esta sua bonita homenagem, ao PC, e, isto, me confortou, sobremaneira.
Paulo César, desde, muito jovem; ainda, em Niterói, já era um apaixonado por música; e, ao longo de sua vida, dedicou-se a pesquisa musical, com absoluta seriedade e principalmente, total generosidade, juntando um acervo precioso, que, repartia com os amigos.
Que possa, agóra, descansar em paz, vivendo, em nossas melhores lembranças; e norteando as novas gerações de pesquisadores, com o seu exemplo, afinal, a MPB merece.
Atenciosamente,
Abraços,
Paulo Alberto Ventura
(Santa Rosa - Niterói)
Pois é, Paulo Alberto... PC já está fazendo falta! Fico feliz que curtiu a (singela) homenagem... Abção!
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