domingo, 21 de agosto de 2011

Vílson (com "vê"), o Filho do Homem

Vílson de passageiro do próprio táxi, eu na direção. Foto de minha prima Carol Alzuguir. 

          Há muitos anos, num dia de sol na praia do Leblon, comentei com uma amiga advogada, Clarissa Kede, sobre a dificuldade em localizar os herdeiros de Wilson Baptista, um sambista antigo sobre quem eu começava a alinhavar um projeto. Para minha surpresa, ela não reagiu como a maioria das pessoas, perguntando "Wilson quem?" Além de saber muito bem quem era ele, Clarissa conhecia pessoalmente a viúva, D. Marina, e os dois filhos vivos do compositor, Vílson e Marilza. É mole? Quase que eu olhei pro alto e falei como aquela personagem lesada da Thalita Carauta: "Ô universô! Para de conspirar!" Coincidência mor: o escritório onde Clarissa trabalhava atendia os herdeiros de Wilson (em questões ligadas ao espólio do compositor).
          Atalho seguido, em poucos dias estava eu conversando com Marilza e Vílson por telefone. D. Marina, internada, faleceu antes que eu pudesse conhecê-la - o que lamento até hoje, pois era uma pessoa (e uma fonte) incrível. Cheguei a fazer uma entrevista longa com Marilza (a filha do meio), em Campo Grande, onde ela morava. Faleceu meses depois.
          Vílson, o caçula, acabou se tornando meu amigo. Ele mal conheceu o pai, que partiu em 1968 quando ele - "raspa de tacho", da relação de Wilson com uma das últimas companheiras - tinha quatro pra cinco anos. Mesmo assim, Vílson tinha adoração pelo pai e sonhava ver suas músicas nas paradas novamente. Era taxista, fazia ponto ali no Shopping Rio Sul, e deixou um casal de filhos, Grazielle e Victor Hugo (os únicos netos do compositor).
          Vílson acompanhou minha odisseia de anos para realizar esse trabalho. Assinou autorizações, fez fotos de divulgação ao meu lado, colaborou como pôde e não me deixava desanimar. "Você vai conseguir, Rodrigão!"

A mesma foto, publicada (sem o crédito à Carol Alzuguir) na coluna Gente Boa d´O Globo em 15 de julho de 2009.
Uma das primeiras notícias que saíram sobre o projeto.

          Lembro que fiz pra ele uma mega coletânea de músicas do Wilson, meia dúzia de CDs que ele botava os tripulantes pra ouvir durante as viagens. Uma vez ficou prosa em conduzir Emílio Santiago, que gravou coisas do Wilson na série "Aquarela Brasileira".
          Além dos problemas cardíacos, Vílson herdou do pai uma falta de timing total na hora de partir. Quando finalmente conseguimos o prêmio do FATE para realizar o trabalho, Vílson estava internado, em coma, e não pôde receber a notícia. Também não chegou a saber do patrocínio da Petrobras para o disco. Faleceu no dia primeiro de janeiro de 2010. Imagino como teria ficado feliz!
          Numa das últimas vezes em que falamos por telefone ele parecia bem desanimado. Uma marca de sandálias que ia usar "Meu mundo é hoje" como trilha de um comercial, em veiculação nacional, havia cancelado a ação. "Será que eu vou estar aí pra ler seu livro?" - ele brincou, antes de desligar.
          Fica aqui a homenagem a esse cara fantástico que tinha muito orgulho em carregar o mesmo nome que o pai: Vílson Baptista de Oliveira - com "vê". Obrigado por tudo, Vílsão! Conseguimos!

Vílson, Wilson e eu

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Marcelo Rodolfo, o Rei da Voz!

Claudia Ventura, essa figura necessária que é Marcelo Rodolfo e eu

          Tem gente que sabe o pulo do gato, mas não quer passar adiante. Tem gente que não sabe e passa qualquer besteira. Tem gente que é um crânio, mas não sabe ensinar. Negócio de ser professor é um sacerdócio, é preciso talento, vocação e generosidade. Coisas que não faltam a esse carequinha genial aí em cima, com nome de galã de novela das oito e uma sensibilidade à toda prova. Marcelo Rodolfo é um super mestre nesse mistério que é a VOZ como veículo de expressão. E também um baita psicólogo! Sem ele, teria sido impossível dar conta desse projeto, desse repertório gigante, dessa responsabilidade. Suas aulas são um divisor de águas, um recomeço, um "caimento de fichas" sem fim.
          Cheguei ao Marcelo triplamente recomendado, primeiro pela cantora Beth Dau, depois por minha mulher Carol e por fim pelo parceirinho Alfredo Del-Penho, todos em algum momento seus discípulos. Agradeço aos três! Não tem preço!
          Queridão, deixo aqui um grande beijo pra você! Dívida de gratidão é pouco, meu amigo!
          A vitória é nossa!!!

Wilson de Fato: Alfredo Del-Penho, Paulino Dias, Pedro Amorim e Pedro Miranda cantam as mulheres

Paulino Dias, Pedro Miranda, Alfredo Del-Penho e Pedro Amorim ensaiam
o medley de sambas que Wilson Baptista compôs em homenagem a mulheres 

          No dia 26 de setembro, dois dias depois de gravarmos a participação de Rosa Passos lá em Brasília, foi a vez de recebermos o Samba de Fato no estúdio da Biscoito Fino. Para quem não sabe, é o que há de melhor em matéria de grupo de samba. Reúne quatro craques – no canto e nos instrumentos – com trajetórias individuais mais que estabelecidas e uma sintonia perfeita como conjunto: Alfredo Del-Penho (violões), Paulino Dias (percussões), Pedro Amorim (bandolim / cavaco) e Pedro Miranda (pandeiro).
          Minha ideia era que eles gravassem um medley em homenagem às mulheres, tema caríssimo a Wilson Baptista na música e na vida. A faixa abriria com uma versão à la canto gregoriano da marchinha "Deixai vir a mim as mulheres", cantada pelos quatro, e terminaria com os quatro novamente fazendo coro em "Os melhores dias de minha vida", duas pérolas desconhecidas de Wilson. Entre uma e outra, cada um faria seu solo, defendendo a sua musa respectiva. Enviei cerca de quinze opções, entre elas Geny, Abigail, Margarida, Hilda, Miss Mangueira, Carmen, Elza, Guiomar, Consuelo e até Heloísa (um "rock balada"!). As eleitas foram "Boa companheira" (solo de Pedro Amorim), "A morena que eu gosto" (Pedro Miranda), "Garota dos discos" (Alfredo Del-Penho) e "Essa mulata" (Paulino Dias). Fiquei feliz com as escolhas! Supra sumo!

Alfredão revisando as cifras

          Alfredão caneteou as harmonias e o arranjo foi se desenhando coletivo. Tudo saiu melhor que a encomenda. A abertura gaiata com direito a risadinha de Zacarias dos Trapalhões, o solo de cada um, o fechamento com "Melhores dias" em altíssimo astral. Valeu galera! É um dos melhores momentos do disco!
          Detalhe: “Essa mulata”, única música inédita da faixa, aparece aqui graças ao pesquisador Luis Fernando Vieira, que entrevistou Alberto de Jesus (parceiro de Wilson no samba) na década de 80 e pescou a pérola. Grande abraço, Luis!


Samba de Fato e o espectro de um quinto elemento: eu! Hehehe

          Outra: Quem não ouviu o disco do Samba de Fato em tributo ao glorioso Mauro Duarte, autor de "Portela na Avenida" entre tantas outras, não sabe o que está perdendo! Saiu pela Deckdisc. Participam Cristina Buarque e Paulo César Pinheiro, principal parceiro do Mauro.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Homens do baú



          Mariana Filgueiras veio aqui em casa em dezembro do ano passado conversar sobre minhas aventuras na seara da pesquisa musical. A simpatia de moça escreve umas matérias ótimas para a Revista de domingo d´O Globo. O foco era o projeto do Wilson Baptista. Apesar dos muitos cabelos brancos, fui incluído ao lado dos amigos Rodrigo Faour e Alfredo Del-Penho (que me indicou para Mariana) no rol dos "jovens pesquisadores" que fazem de tudo para garimpar uma raridade.
          Alfredinho é meu parceiro em alguns sambas, um deles gravado por Elza Soares (nem acredito), e participou do CD do Wilson Baptista com uma suingada versão de uma das minhas músicas preferidas, "Garota dos discos".
          (Detalhe: quem não gostou muito desse papo de Wilson Baptista morando com a gente em Botafogo foi minha mulher Carol, que depois de ler a matéria passou a dormir com um olho só. Hehehe. Brincadeira!)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Teresa Cristina: não podia esquecê-la no meu álbum!

Teresa (e Margarida) homenageiam Wilson (e Nelson)

          No dia 9 de novembro de 2010, Teresa Cristina tirou do limbo uma pérola inédita de Wilson Baptista, a marcha-rancho "Nelson Cavaquinho" (que o crítico Mauro Ferreira julgou "linda" em sua resenha sobre O SAMBA CARIOCA DE WILSON BAPTISTA). Na verdade, Teresa faz ali duas homenagens numa "caixa-d´água" só, a Wilson e a Nelson. Diz a letra: "Não podia esquecê-lo no meu álbum / Com sua simplicidade / E seu grande valor / Essa figura da noite / Que alegrou tantos bares do Rio / Aos que carregavam uma dor / (...) / É mais uma cerveja / É mais um conhaque / Na mesa do Nelson Cavaquinho". Pensando bem, essa letra fala também um pouco da própria Teresa, que há mais de dez anos tem alegrado tantos bares do Rio, com sua simplicidade, seu canto suave e seu grande valor. Eu também tomo parte nos salgadinhos!
          Conheci Teresa lá no comecinho, num de seus primeiros shows, numa casa perto da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Hoje uma pet-shop, se não me engano. Quem chamou foi Ricardo Cotrim, amigo meu do Teresiano, que fazia parte de um grupo recém-formado para acompanhar (a tímida) Teresa em Candeias, Paulinhos e Portelas. Mais tarde batizado de Grupo Semente. Lembro que gostei muito das suas composições. Teresa ainda era um segredo. Cinco ou seis pessoas na plateia, sendo metade da família Cotrim.
          Corta para uns poucos anos depois. Teresa é a diva da Lapa redescoberta. Bar Semente abarrotado. Canja de Marisa Monte, matéria em jornal. Só sucesso. Teresa tem uma estrela danada. Nos cruzamos aqui e ali, muitos amigos em comum. Fiz coro num show dela e Seu Jair do Cavaquinho em São Paulo. Eu, uma espécie de Forrest Gump da sua trajetória vitoriosa.
          Fiquei feliz quando soube do seu interesse em participar do disco do Wilson. E o resultado taí, encantando geral. Arranjo caprichado de João Callado, com flauta de Edu Neves. Muito obrigado pela participação, Teresa! Foi demais!
          (Acabo de me tocar que a marcha-rancho, depois de ficar inédita por mais de quatro décadas, acabou sendo gravada pela primeira vez justamente nos 100 anos de Nelson! Ê ê! Quando é pra ser...)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quinteto Fantástico


          Diz o ditado que a gente conta os amigos nos dedos das mãos. Bom, lá se foi uma delas com essa turma aí de cima! Gê, Nando, Levi, Luisinho e Naná são amigos muito especiais. Ao lado dessas cinco feras vivi um momento "mágico" da minha vida: a realização de um sonho, há muito tempo acalentado, chamado O SAMBA CARIOCA DE WILSON BAPTISTA - espetáculo e disco. E que acabou se tornando, para minha alegria, um troço importante e prazeroso para eles também.
          Quem se liga em música brasileira sabe que os cinco fazem parte do "creme do creme". Mas nem por isso eles botam banca. Jogam fácil e são de uma simplicidade só, como os craques devem ser. Nossa convivência de mais de ano (englobando duas temporadas teatrais, viagens pelo estado do Rio nos circuitos SESC e SESI e gravação do disco na Biscoito Fino - vide fotos acima) não teve sombra de perrengue ou tempo ruim. Um encontro único, em que tudo soma. Inesquecível mesmo. Valeu, quinteto! Obrigado por vestirem a camisa do projeto e não pouparem coração!       
          Nesse blog, mosaico de agradecimentos e recuerdos, não poderiam faltar:
          Geórgia Câmara (bateria e percussão) - Gê foi indicada pela Claudinha Ventura assim que começamos a pensar na formação da banda. "Ela é fera e uma coxia maravilhosa!" - bradou a parceirinha sem pestanejar. Realmente, a Gê é daquelas pessoas que a gente quer ter sempre por perto. Talentosa pra caramba sem fazer alarde, percussionista zen, moça fina, fotógrafa de talento, cheia de suíngue e fanática por hamburguer do McDonald´s. A morena quebra tudo!
          Levi Chaves (sopros) - Levi´s é outra peça rara, um dos sopros mais versáteis que há por aí. Vai de pícolo, flauta, clarinete, sax, clarone, megafone, berrante, osso-buco e o que pintar. Gnattali escreveu cada descarrego de semicolcheia para ele que benzadeus. Só Levi mesmo... Começou tocando trombone, se não me engano. Vem de família de músicos e musical brasileiro sem ele na ficha técnica é novela sem Lima Duarte. Levi é o recordista da banda: foi o único que fez todos os espetáculos desde a primeira temporada do Wilson! O sub dele está a ver navios, ó pá... (Deixa o moço trabalhar, Levi...)
          Luis Barcelos (bandolim) - O namorado do Batman vai ficar brabo comigo, mas menino prodígio mesmo é Luisinho Barcelos. Quem o vê (o Luisinho, não o Robin) debulhando seu bandolim não entende como um guri (sim, ele é do Sul) pode tocar com tamanha categoria e maturidade. Luisinho participa do disco também como arranjador, das músicas "Louca alegria" (com Wilson das Neves) e "Não me pise o calo" (com Mart´nália). Destaque para o seu solo de bandolim em "Não sei dar adeus" (com Marcos Sacramento) e para o violão tenor tocado a la Django Reinhart em "Artigo nacional" (com Elza Soares). Papa fina.
          Naife Simões (percussão e Frankenstein da Vila) - Filho do trompetista erudito Nailson Simões e neto do Maestro Duda (de Recife), Naná é o ritmo em pessoa. Faz percussão vocal, um troço complicadíssimo. Outra figura única, agregador, engraçado, astral lá em cima. O sonho de todo arranjador: Naná é daqueles que capta pensamento e sabe traduzir em som o que ainda estava na imaginação. Sem esquecer do principal: é casado com a gloriosa Milena, amiga da minha Carol. Dá-lhe Naná! Nosso Frank!
          Nando Duarte (violão, arranjos e co-direção musical) - Dêem uma olhada na postagem que fiz sobre o Nandinho, tá aí no acervo do blog. Nandinho divide o leme desse barco com Roberto Gnattali e é graças a eles que chegamos sãos e salvos do outro lado do oceano... Valeu mais uma vez, irmãozinho! (OBS: Nando é que teve a ideia da foto brega tipo grupo americano. Clique para aumentar.)