sexta-feira, 27 de maio de 2011

Minha querida Cristina

  Eu no cangote de Cristina Buarque

          Estúdio da Biscoito Fino, 17 de setembro de 2010. Cristina Buarque abria a quitanda das participações luxuosas do CD em homenagem a Wilson Baptista. Chegou de mansinho como sempre e, brejeira, pôs no bolso quatro sambas do mestre.    
          "Venha manso (O tambor do Edgard)" tem sabor de Portela. Foi lançado (para o anonimato) em 1948 pela cantora Flora Matos, companheira do bicheiro China da Saúde, parceiro de Wilson no samba. Quando o ouvi pela primeira vez na gravação da Flora, pensei: "É a cara da Cristina!" Não deu outra. Parece que foi feito mesmo pra ela. Esse Edgard aí parece ser o mesmo personagem de "Coitado do Edgard", samba de Haroldo Lobo e Benedito Lacerda que Cristina adora e teve a ideia de citar no final de "Venha manso".
          O partido alto "O teu riso tem", um dos primeiros sucessinhos de Wilson, de 1938, foi cisma de Cristina gravar. E ela tinha toda a razão! O arranjo buliçoso de Nando Duarte ajudou a manter o astral do partido nas alturas. A letra enaltece a mulher do início ao fim, coisa rara naquela época de fatalismos estacianos. Cereja do bolo é o último verso, criação de Cristina em piscadela de olho para Wilson e Roberto Martins – autores do samba –, e também homenagem à ilha de Paquetá, paixão que une os três.
          As outras duas músicas também foram escolhas de Cristina, aliás, a cantora que mais gravou Wilson Baptista nos últimos tempos. "Vinte e cinco anos" ganhou um tom gaiato inexistente na gravação original de Newton Teixeira. O samba "Timidez", lançado por Raul Moreno em gravação esfuziante de 1954 (na esteira do sucesso "Eu sou a fonte", do ano anterior), teve sua bola baixada e ganhou aqui uma interpretação delicada e... tímida, como pede a letra. E como é Cristina. Marcelo Caldi ao piano.

Eu, Cristina, Nando Duarte e Marcelo Caldi

          Cristina Buarque é única. Uma das pessoas mais íntegras, engraçadas e sem papas na língua que há por aí. Como cantora, se apropria das músicas com alegria e simplicidade. Nesse tipo de repertório que amamos, então, a fera deita e rola. Salve ela!

Um comentário:

  1. Alzuga, caríssimo.

    Baita blógue, baita pôste sobre a Cristina - a fera deita e rola, falou e disse. Tô louco ("...pelas ruas ele andava") pra ouvir o CD.

    Abração,
    PP

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