quinta-feira, 23 de junho de 2011

Elza Soares: artigo sideral

         
          Elza (da Conceição) Soares tinha que "entrar pra estudo". Os cientistas deviam analisar a constituição de seus ossos, músculos, moléculas e sangue. Decifrar a anatomia de sua garganta. Deviam mapear seu DNA, do cóccix até o pescoço. Daí, tenho certeza, seriam feitas muitas descobertas importantíssimas para a Humanidade. Curas para doenças. Elixires da juventude. Novas formas de obter energia, cantar e ser feliz.
          O legal é que Elza não tem patente. É de todos nós. Mais que brasileira, mais que artigo 100% nacional, Elza é sideral.
          Tê-la nesse projeto foi... espetacular! Quisera ter estendido um tapete vermelho de Copacabana até o estúdio da Biscoito, no Humaitá, pra receber essa eterna "sapeca da breca" de Água Santa.

Elza e Nando Duarte na gravação de "Artigo nacional"

          Elza é amiga de Nandinho Duarte, que foi seu diretor musical. Por intermédio dele, havia vestido a camisa do projeto ainda na fase de formatação, editais de patrocínio e cartinhas de anuência. O que nos deu muito ânimo pra continuar.
          Ela havia gravado "Louco (Ela é seu mundo)", do Wilson, em seu LP de 1967, "O máximo em samba". É uma das faixas mais bonitas do disco, e deve ter deixado o mestre feliz, em seu penúltimo ano de vida (Wilson morreria em julho de 1968). Elza já era cartaz!
          Quando chegou a hora de gravarmos sua participação no CD de raras e inéditas, lembrei de "Artigo nacional", um samba-choro faceiríssimo do mestre, lançado pela cantora Cynara Rios há mais de 70 anos e nunca regravado. A mudança de ritmo de samba-choro pra jazz na segunda parte da música me fez ter certeza: era a cara da Elza!
          A letra de "Artigo nacional" descreve uma roda de samba internacional, com astros do entretenimento norteamericano dos anos 40 tocando cuíca, pandeiro, cavaco, flauta e violão. São eles: os líderes de banda Cab Calloway e Ted Lewis, o ator e baixo-barítono Paul Robeson, o sapateador Bill "Bojangles" Robinson, os comediantes de pastelão The Ritz Brothers e o pianista Fats Waller. Nos vocais, em vez da Teresa Cristina, quem dá o recado é a estrela de musicais Jeanette McDonald. Guguei eles todos, vejam que simpáticas as fotos.

Os gringos citados no samba-choro-jazz gravado por Elza 
(no sentido horário começando do alto à esquerda): Cab Calloway, Paul Robeson, 
Bill "Bojangles" Robinson, Jeanette McDonald (piteuzinho, né não?), 
Fats Waller, Ted Lewis e os Irmãos Ritz
          
          Dia 22 de outubro de 2010. Elza botou pra quebrar. Chegou no estúdio meio jururu por causa de uma dor na coluna, mas logo acendeu-se e deu tudo de si. Sincopou o samba-choro como quis, surfou bonito na onda do jazz, e abriu-alas pra Louis Armstrong baixar no terreiro. A brincadeira que fez com os nomes rocambolescos dos gringos ficou muito legal.
          Serviços lindamente prestados, Elza ainda fez pose pra foto, distribuiu autógrafos, contou histórias do pessoal da antiga (disse que Linda Baptista falava muito palavrão) e se revelou uma jazzista de primeira - jazz é o estilo que as caixas de som de sua casa mais sussurram. Especialmente Chet Baker.

Carisma em dobro: Elza e Claudinha Ventura, co-produtora artística do disco

Elza faz xamego em minha sobrinha Manu, que foi lá conhecê-la. 
Carol, minha mulher, buscou e levou a diva em casa.
          
Elza e eu

          Elza, sem palavras para agradecer! A equipe toda manda mil beijos para você! Fica também um grande abraço pro Bruno Lucide e pro Osvaldo! Palmas também para o arranjador da faixa, Edu Neves, e para os músicos que participaram (Nandinho, Paulino Dias e Beto Cazes). Destaque para o trompetista Moiséis Alves e Luisinho Barcelos pilotando um violão tenor gentilmente cedido por Henrique Cazes. Valeu, turma!

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