Vílson de passageiro do próprio táxi, eu na direção. Foto de minha prima Carol Alzuguir.
Há muitos anos, num dia de sol na praia do Leblon, comentei com uma amiga advogada, Clarissa Kede, sobre a dificuldade em localizar os herdeiros de Wilson Baptista, um sambista antigo sobre quem eu começava a alinhavar um projeto. Para minha surpresa, ela não reagiu como a maioria das pessoas, perguntando "Wilson quem?" Além de saber muito bem quem era ele, Clarissa conhecia pessoalmente a viúva, D. Marina, e os dois filhos vivos do compositor, Vílson e Marilza. É mole? Quase que eu olhei pro alto e falei como aquela personagem lesada da Thalita Carauta: "Ô universô! Para de conspirar!" Coincidência mor: o escritório onde Clarissa trabalhava atendia os herdeiros de Wilson (em questões ligadas ao espólio do compositor).
Atalho seguido, em poucos dias estava eu conversando com Marilza e Vílson por telefone. D. Marina, internada, faleceu antes que eu pudesse conhecê-la - o que lamento até hoje, pois era uma pessoa (e uma fonte) incrível. Cheguei a fazer uma entrevista longa com Marilza (a filha do meio), em Campo Grande, onde ela morava. Faleceu meses depois.
Vílson, o caçula, acabou se tornando meu amigo. Ele mal conheceu o pai, que partiu em 1968 quando ele - "raspa de tacho", da relação de Wilson com uma das últimas companheiras - tinha quatro pra cinco anos. Mesmo assim, Vílson tinha adoração pelo pai e sonhava ver suas músicas nas paradas novamente. Era taxista, fazia ponto ali no Shopping Rio Sul, e deixou um casal de filhos, Grazielle e Victor Hugo (os únicos netos do compositor).
Vílson acompanhou minha odisseia de anos para realizar esse trabalho. Assinou autorizações, fez fotos de divulgação ao meu lado, colaborou como pôde e não me deixava desanimar. "Você vai conseguir, Rodrigão!"
A mesma foto, publicada (sem o crédito à Carol Alzuguir) na coluna Gente Boa d´O Globo em 15 de julho de 2009.
Uma das primeiras notícias que saíram sobre o projeto.
Lembro que fiz pra ele uma mega coletânea de músicas do Wilson, meia dúzia de CDs que ele botava os tripulantes pra ouvir durante as viagens. Uma vez ficou prosa em conduzir Emílio Santiago, que gravou coisas do Wilson na série "Aquarela Brasileira".
Além dos problemas cardíacos, Vílson herdou do pai uma falta de timing total na hora de partir. Quando finalmente conseguimos o prêmio do FATE para realizar o trabalho, Vílson estava internado, em coma, e não pôde receber a notícia. Também não chegou a saber do patrocínio da Petrobras para o disco. Faleceu no dia primeiro de janeiro de 2010. Imagino como teria ficado feliz!
Numa das últimas vezes em que falamos por telefone ele parecia bem desanimado. Uma marca de sandálias que ia usar "Meu mundo é hoje" como trilha de um comercial, em veiculação nacional, havia cancelado a ação. "Será que eu vou estar aí pra ler seu livro?" - ele brincou, antes de desligar.
Fica aqui a homenagem a esse cara fantástico que tinha muito orgulho em carregar o mesmo nome que o pai: Vílson Baptista de Oliveira - com "vê". Obrigado por tudo, Vílsão! Conseguimos!
Vílson, Wilson e eu
Valeu Rodrigão, fico muito orgulhoso vendo o carinho que você vem fazendo essa pesquisa (por tantos anos!), todos acabam se envolvendo. Muita pena que ele não ficou pra ver a peça e os discos, teria se emocionado e rido muito!
ResponderExcluirAbração do irmão!
Nando